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Foto do escritorRoberto Almada

45 anos depois

Estou a escrever este texto no dia 13 de Abril de 2019, porque estou com vontade de evocar Abril de 1974. Eu era emigrante em França e procurava acompanhar a política do meu país. Sentia-se que o regime estava em agonia, mas não cairia de podre como alguns pensavam.

Num dia qualquer do mês de Abril desse bendito ano de 1974, fui com alguns amigos ouvir canções de intervenção cantadas por Zeca Afonso, José Mário Branco e outro que não me lembro o nome. Alguém nos disse que, aproximando-se o 1º de Maio, Zeca Afonso passaria algum tempo em Paris, com o pretexto de gravar um disco. A PIDE costumava prender anti-fascistas em vésperas do 1º de Maio e Zeca Afonso refugiou-se com medo de ser levado novamente para a gaiola.

Por essa altura, ninguém sabia o que aconteceria no dia 25. Nem sequer os capitães de Abril, que estavam a preparar o golpe, sabiam ao certo o que aconteceria quando saíssem as tropas dos quartéis. O Destino cumpre-se na hora dos acontecimentos.

E os militares saíram, corajosos, valentes, garbosos. Enfrentaram as hienas, como bem disse Ary dos Santos, derrubaram uma ditadura de 48 anos e libertaram um povo amordaçado, pobre e desinformado, na sua grande maioria. E a revolução veio de seguida: nas ruas, nos locais de trabalho, nos bairros populares, nas reuniões dos grupos políticos. Pôs-se fim à guerra colonial que há 13 anos matava jovens portugueses e africanos e começou a reconstrução de um país atrasado no tempo, pobre e quase analfabeto. Ainda hoje se ouve alguns saudosos desses tempos dizerem que as colónias eram a nossa riqueza. Mas o povo português vivia tão pobre! A nossa vida só melhorou depois da independência das colónias.

Hoje, 45 anos depois, temos governantes e deputados eleitos democraticamente, mas a direita, que nesses anos gloriosos da revolução piava baixinho e agia pela calada da noite, organizada na FLAMA, FLA e MDLP, hoje quer cantar de galo e está a destruir o Portugal de Abril que levantámos com muito esforço e sofrimento. E andam a convencer muita gente que as suas teorias são as melhores e querem o bem do povo. Vejamos o que nos fizeram quando estiveram no poder, de 2011 a 2015. Se não lhes barrássemos o caminho, não deixariam pedra sobre pedra. E o BE honra-se de propor um acordo ao PS, que também foi assinado pelo PC e os Verdes, que cumpriram a sua palavra, votando a favor dos Orçamentos do Estado e assim arredaram o PSD e o CDS do poder.

Mas temos aí o poder económico que nos rouba diariamente. Afundaram bancos privados e a CGD, banco público, está a contas com com as falcatruas dos ricaços, como o Berardo, que deixou uma dívida de centenas de milhões de euros e alega que não pode pagar. De rico passou a pobre, não tem bens em seu nome (diz-se que só tem uma garagem em seu nome). Se fosse um pobre que não pagasse as suas dívidas já estaria na cadeia há muito tempo.

Portugal está a ser devastado pela corrupção. Quase todos os dias aparecem casos de desvios de dinheiros públicos e não são punidos devidamente pelos tribunais.

As eleições aproximam-se e o Povo deve votar com inteligência, a pensar o que será melhor para as suas vidas e para os filhos, netos e bisnetos. Está na hora de tomar posição, não ficar em casa e deixar que outros tomem decisões por nós. “Quem sabe faz a hora não espera acontecer”.


Conceição Pereira


Publicado originalmente na secção Cartas do Leitor do DN Madeira.


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